presente de amiga

Ela disse que achou parecido comigo.Hmmm, pode ser mesmo...


"Levantou-se seguindo o tic-tac que vinha do quarto, aconchegou-se na cama ainda quente, procurou em suas pernas manchas novas. Sempre apareciam lhe pequenos circulos roxos, esverdeados dos quais raramente se lembrava, percorreu os dedos entre os joelhos, quase sempre iguais a não ser por pequenos traços, cicatrizes únicas. Pegou a toalha que estava jogada na poltrona e foi tomar um banho.
Assim que a água quente lhe caiu na costas sentiu um frémito pulsar lhe as veias e por alguns segundos, doces instantes não pensou em nada, ou simplesmente se esquecera de tudo . A água quente latejando lhe a carne, acalmando lhe o espírito, o vapor quente que subia cegando, transpondo-a para qualquer outro lugar. Por último deixou uma ducha forte de água fria a trazer de volta, reiniciar, acordar, mais um dia enfrentar.
Trocou-se, apanhou a bolsa, o casaco e as chaves, assim que abriu a porta sentiu o vento lhe cortar a face, apertou o casaco contra si e fechou o portão.
Um dia típico de inverno numa cidade absurdamente quente, quando as sombras são mais frias e sol é acolhedor. Sentar se ao sol de inverno sentindo os fios dourados (no seu caso avermelhados) lhe penetrarem na pele, quando o céu é uma imensidão azul. Muitas vezes se perguntava se o céu era o mar refletido ou se o mar era a reflexo mais puro de uma serena manhã de inverno, manhãs de pouco sol e um céu sem nuvens.
Andou por caminhos desconhecidos, respirou ares virgens, gramas alheias nem tão mais verdes assim. Quando deparou-se com uma rua coberta de folhas secas, sem pestanejar começou a pisar sobre elas, tamanho era seu frenesi que não deixava de escapar um sorriso a cada folha em seu caminho. Não somente a sensação de todas as fibras se quebrando debaixo de seus pés, o barulho que delas ecoavam ao serem pisoteadas era o que lhe penetrava a alma com pontas de algodão, trazendo a mais pura alegria e prazer."


Topo um passeio no parque sim... pisando em folhas secas.
E por falar em folhas...

Folhas secas
(Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito)

Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha Estação Primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando
Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais sambar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
Da minha mocidade
Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha Estação Primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando
E assim vou me acabando
E assim vou me acabando