filosofia do dinheiro e o ficar

Texto da amiga que tanto quero bem. E que passa pelas mesmas poucas e boas.
E que vive no mesmo mundo onde "minha mãe me ensinou que não se deve deixar a mulher pagar nada".
Ah! Nos poupe!


From Dorothy no País das Maravilhas:


Tem uma coisa que me incomoda um pouco: essa coisa do homem pagar a conta.
Há algumas correlações que meu tino sente ao deixar o homem sempre pagar a conta. Parece que ele se sente desconfortável com a palavra divisão, compartilhar, até mesmo decidir. Fica mais fácil e rápido decidir que ele paga e pronto, do que ter que discutir, avaliar, se naquele momento e se ainda é momento de deixar que ele pague a conta sozinho.
Você deve achar que sou uma feminista sem escrúpulos, daquelas que não gosta que o cara abra a porta do carro pq acha que pode abrir sozinha. Não sou assim não, muito pelo contrário. Aprecio com fervor toda e qualquer demonstração à mulher de cortejo, de carinho e delicadeza.
Acontece que somos muito mais que modernas, nós mulheres. Moderna está em desuso, a idade é contemporânea, e assim mesmo acho que precisamos criar uma nova era pra essa que vivemos - afinal, a Contemporânea começou na Revolução Francesa e já passou um bocado. Conquistamos muitas posições no mercado de trabalho, e hoje a possibilidade de haver o mesmo poder aquisitivo entre casais é bastante maior a de antigamente, por isso, acho que fica piegas, um tanto, o homem sempre pagar a conta.
A anatomia da mulher é feita para receber, os hormônios e cacete a quatro (e quando eles enlouquecem?). Ao mesmo tempo, para selecionar, o macho que lhe proverá melhor. Papo de louco? Não, meu bem. Não esqueça que temos 99 e tantos por cento de similaridade genética aos primatas, e sim instintos, darwinismo puro correndo nas veias.
Receber é bom, é ótimo, quando não se demonstra em forma de poder, de controle, como se o homem não quisesse deixar dívida, rabo preso, qualquer pena ou discussão de que etapa da relação se encontra aquele "ficar". Dividir motel então nem se fala. Quase motivo de quebra- pau, invariavelmente. Não foram poucas as manifestações de "Cê tá louca?" que recebi quando me propus a dividir a conta. Mas enfim, vamos levando, no escuro. Faz um mês que estou ficando com um moço. Muito gosto dele, mas ainda é uma parte que pega. Não sabemos o que somos, não me importa, mas me incomoda ele sempre pagar a conta. Incomoda mesmo. Sou do verso do Chico "pra que somar se a gente pode dividir", e acho que fica mais harmonioso - e mais horizontal - a relação assim.