Eles se conheceram no fim da adolescência. Aquela fase feia, crescendo desproporcionalmente. Milhões de coisas na cabeça sem fazer sentido algum.
Aquele nariz que não era pra ser assim, o cabelo que você ainda não sabe arrumar, o estilo de roupa que você ainda não encontrou. Ela se olha no espelho e nunca gosta do que vê. Faz um drama. Ele ainda usa aparelho nos dentes. Será que vai demorar muito?
Ela não lê mais a Capricho. Pensa em morar no exterior.
Ele não sabe qual droga experimentar agora. Se presta Medicina ou Biologia. Se ouve Rock ou Reggae.
Ela ainda escreve na agenda sobre o mesmo amor platônico de anos. E ele não a quer. Mas ela insiste. Também, existe passatempo melhor quando se é adolescente?
Ele sofre pela primeira ex-namorada. Existe drama melhor?
Os caminhos poderiam ter sido diferentes se não fosse pela amiga que insistiu em apresentá-los. Essa coisa de cupido também existe na vida real. Não que essa seja uma história real. Ora bolas!
E eles se apaixonam. Borboletas no estômago. Sinos tocando. Eu e você escritos no espelho embaçado depois do banho.
Numa quinta-feira a noite quando a amiga a chama para ir embora da festa ele pergunta: o que você gostaria de fazer antes de ir embora?
Ela pede o beijo. O primeiro e mais especial em meio a tantos outros deles.
No outro dia já se telefonaram. Ele não se importava mais com o aparelho, mas continuava tentando decidir sobre a próxima droga. Ela gostava do que via no espelho porque ele gostava do que via nela.
Era aquele o primeiro amor.
Foram seis meses daquela coisa linda que todos conhecemos. A primeira vez de tudo.
A primeira noite juntos, o primeiro "eu te amo". Tudo arrepia. Tudo é tão intenso.
A trilha sonora nunca seria esquecida.
No final dos seis meses ela muda de cidade deixando para traz um coração partido e uma cara inchada. Promete ser dele pra sempre com medo de não poder ser.
Ele não dorme a noite, sabe que a vida dela mudará na faculdade. Tantas pessoas para conhecer, tão mais interessantes que ele.
Aí vem o primeiro telefonema.Um telgrama. A primeira carta. O primeiro email. O presente de aniversario enviado pelo amigo. Ela abre: uma flor!
A fita de músicas do Chico Buarque. A poesia de Vinicius e Oswald.
Tudo aquilo era lindo e doía. A distância era longa mas os dois não abriam mão de estarem presentes.
Doía mas era um sofrimento válido.
Um sofrimento bonito. Um eu te amo pra sempre.
Que acendia a cada encontro, a cada sorriso, a cada : Oi, está tudo bem por aí? Estou com saudades.
A história é longa. Eles nunca acreditaram de verdade que daria tão certo. Que realizariam tantos sonhos juntos. Que seriam parte da vida um do outro para sempre.
Eles preferiam acreditar que depois de muito tempo separados se encontrariam durante as férias numa praça em Madrid.
Ela com um livro no colo olhando a fonte e ele tirando fotos da mesma.